Maioria das crianças está 11 ou mais horas sem comer nada.
A esmagadora maioria (84,9 por cento) das 27.814 crianças com idades entre os seis e os dez anos inquiridas no âmbito de um projecto de educação alimentar está 11 ou mais horas em jejum.
São muitas as que não têm por hábito comer nada antes de ir para a cama — e que por isso não ingerem qualquer alimento entre o jantar e a primeira refeição do dia seguinte. Este foi o resultado que mais surpreendeu a coordenadora científica do projecto, Fernanda de Mesquita. E é também aquele que lhe causa maior apreensão."É o dado mais preocupante." Significa que os mais novos "estão a ficar com um défice de açúcar no cérebro" — o que, explica, pode ter consequências ao nível da capacidade de concentração e do rendimento escolar dos mais novos.
Foram inquiridos alunos de escolas do Norte, do Centro e da Grande Lisboa. O estudo insere-se no projecto Bom Dia Planta, que envolve a Fima-Planta, o Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (no Monte da Caparica, onde os resultados são hoje apresentados), pais e professores.Constata-se que o pequeno-almoço faz parte dos hábitos da grande maioria destes alunos do 1.º ciclo do ensino básico. Quase todos (98,5 por cento) dizem tomá-lo, a maior parte (93,4 por cento) em casa.E o que é que comem? Antes de mais, bolachas (54,1 por cento). A seguir pão com manteiga (47 por cento), fruta (37,3 por cento), bolos (26,6 por cento) e batatas fritas (11,6 por cento). Quase metade (47,2 por cento) dos inquiridos bebe leite com chocolate. Só um em perto de 28 mil alunos não consome alimentos com açúcar ao pequeno-almoço.
Fernanda de Mesquita reconhece que não estava à espera que houvesse tantas crianças a começar o dia com batatas fritas, mas também é verdade que a surpreendeu pela positiva a percentagem das que estão habituadas a consumir fruta. As refeições intermédias — a meio da manhã, ao lanche e ao deitar — concentrarão as atenções na segunda fase do projecto, neste momento a ser iniciada. A primeira centrou-se mais na questão do pequeno-almoço.O inquérito deverá ser repetido todos os anos. "A educação alimentar tem de ser permanente. Para se adquirir um hábito, é preciso muito tempo", lembra Fernanda de Mesquita, professora catedrática que coordena o mestrado em Nutrição Clínica, no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
2007-05-29 Bárbara Simões. Jornal Público
4 comentários:
E os hábitos requerem tempo. A educação quanto aos hábitos alimentares requer muita e muita paciência e o nutricionista tem que ser incansável.
11% que começa o dia com batatas fritas é um bocado muito... mas é preciso olhar para a população como um todo para que se consigam resolver esses problemas. De nada serviría isolar essa questão e resolvê-la à parte.
Quanto à questão do exercício físico, os meus professores dizem sempre o mesmo: "para perder peso não vale de nada controlarmos os inputs se os outputs não forem superiores". Se eu, como estudante de desporto, fosse a um nutricionista e se o meu objectivo fosse perder peso, ficaría espantado se ele não me dissesse que tínha que fazer exercício físico, para além da dieta mais regrada.
Tens razão quanto ao tipo de exercício. Um diabético não fará as actividades com as mesmas exigências que um indivíduo "saudável" cujo objectivo é apenas perder peso. Esse é um dos motivos que me leva a pensar que tem que haver uma grande ligação entre desporto e nutrição ou nutrição e desporto. Porque, tendo em conta os objectivos da pessoa em questão a prescrição de um programa de treino pode variar.
Deixo-vos aqui uma dica... resulta mesmo! Para perder peso, o que se deve fazer é fazer exercício contínuo (andar, correr, andar de bicicleta) a uma intensidade baixa (40% do VO2 máximo - intensidade à qual se consiga manter uma conversa) entre 30 a 90 minutos.
Eu passo aqui porque o blog é interessante e porque é uma forma de aprender sempre.
Sobre a discussão do exercício deixo como referência este artigo que encontrei, poderá ser interessante. Beijinhos! Continuem com o excelente trabalho :)
Ann Readapt Med Phys. 2007 Jul;50(6):510-9. Epub 2007 May 11
Relativamente ao artigo em si, trabalhei também no meu estágio num projecto sobre o pequeno-almoço. Também me deparei com crianças a comerem batatas fritas logo pela manhã, e aqui refira-se que não era pequeno-almoço; para além de comerem estes alimentos como os primeiros do seu dia, na verdade estas crianças faziam era um meio da manhã como primeira refeição. Penso que antes de avançarem para outros projectos como o dos lanches, se deveria ainda trabalhar melhor as escolhas ao PA, ou pensar numa acção conjunta, que de forma simples e eficaz permitisse abordar as várias refeições. Excelente artigo. Beijinhos meninas, n deixem isto morrer nas férias seria um apena! ;) (madrinha babada)
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