terça-feira, 29 de maio de 2007

Kitsch kitchen


Última Hora

Estudo sobre hábitos alimentares revela:
Maioria das crianças está 11 ou mais horas sem comer nada.

A esmagadora maioria (84,9 por cento) das 27.814 crianças com idades entre os seis e os dez anos inquiridas no âmbito de um projecto de educação alimentar está 11 ou mais horas em jejum.
São muitas as que não têm por hábito comer nada antes de ir para a cama — e que por isso não ingerem qualquer alimento entre o jantar e a primeira refeição do dia seguinte. Este foi o resultado que mais surpreendeu a coordenadora científica do projecto, Fernanda de Mesquita. E é também aquele que lhe causa maior apreensão."É o dado mais preocupante." Significa que os mais novos "estão a ficar com um défice de açúcar no cérebro" — o que, explica, pode ter consequências ao nível da capacidade de concentração e do rendimento escolar dos mais novos.

Foram inquiridos alunos de escolas do Norte, do Centro e da Grande Lisboa. O estudo insere-se no projecto Bom Dia Planta, que envolve a Fima-Planta, o Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz (no Monte da Caparica, onde os resultados são hoje apresentados), pais e professores.Constata-se que o pequeno-almoço faz parte dos hábitos da grande maioria destes alunos do 1.º ciclo do ensino básico. Quase todos (98,5 por cento) dizem tomá-lo, a maior parte (93,4 por cento) em casa.E o que é que comem? Antes de mais, bolachas (54,1 por cento). A seguir pão com manteiga (47 por cento), fruta (37,3 por cento), bolos (26,6 por cento) e batatas fritas (11,6 por cento). Quase metade (47,2 por cento) dos inquiridos bebe leite com chocolate. Só um em perto de 28 mil alunos não consome alimentos com açúcar ao pequeno-almoço.

Fernanda de Mesquita reconhece que não estava à espera que houvesse tantas crianças a começar o dia com batatas fritas, mas também é verdade que a surpreendeu pela positiva a percentagem das que estão habituadas a consumir fruta. As refeições intermédias — a meio da manhã, ao lanche e ao deitar — concentrarão as atenções na segunda fase do projecto, neste momento a ser iniciada. A primeira centrou-se mais na questão do pequeno-almoço.O inquérito deverá ser repetido todos os anos. "A educação alimentar tem de ser permanente. Para se adquirir um hábito, é preciso muito tempo", lembra Fernanda de Mesquita, professora catedrática que coordena o mestrado em Nutrição Clínica, no Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz.
2007-05-29 Bárbara Simões. Jornal Público